quinta-feira, 18 de março de 2010

"O prazer de acertar um chute no ângulo da goleira. Qualquer goleira. O que pode se comparar, na experiência humana? "

A Paixão pelo Futebol é algo incontestável para a maioria dos brasileiros...e na minha atual jornada isso se confirma dia após dia...por isso resolvi postar hoje uma crônica de um dos meus escritores favoritos ( literatura é uma outra grande paixão que tenho)...apreciem..sem moderação essas e outras crônicas de Luis Fernando Veríssimo.



"O prazer de acertar um chute no ângulo da goleira. Qualquer goleira. O que pode se comparar,
na experiência humana? Ou na experiência humana de um brasileiro?"

* Luis Fernando Verissimo – Jornalista e escritor

Começa quando a gente é criança. Quando qualquer coisa - até o corredor da casa - é um campo de futebol e qualquer coisa vagamente esférica é a bola. Se é genético, não se sabe. Um brasileiro criado na selva por chimpanzés, quando se pusesse de pé, começaria a fazer embaixadas com frutas, mesmo sem saber o que estava fazendo? Não se sabe.

Nenhum prazer que teremos na vida depois, incluindo a primeira transa, se iguala ao prazer da primeira bola de verdade. Autobiografia: sou do tempo da bola de couro com cor de couro. A oficial, número 5. Ganhei a minha primeira com cinco ou seis anos. Ainda me lembro do cheiro. Depois de ganhá-la, você ficava num dilema: levá-la para a calçada e começar a chutá-la, ou preservar o seu couro reluzente? Uma bola futebol de verdade era uma coisa tão preciosa que se hesitava em estragá-la com o futebol.

Futebol de calçada. O tamanho dos times variava. De um para cada lado a 14 ou 15 para cada lado. Duração das partidas: até escurecer ou a vizinhança reclamar, o que acontecesse primeiro.
Nada interrompia as partidas. Ninguém saía. Joelho ralado, a mãe via depois. Gente passando na calçada que se cuidasse. Só se respeitava velhinha, deficiente físico e, vá lá, grávida. Os outros não estavam livres de ser atropelados. Quem mandara invadir nosso campo?

Comparado com calçada, terreno baldio era estádio. E terreno baldio com goleiras, então, era Maracanã. As goleiras podiam ser feitas com sarrafos ou galhos de árvore. Não importava, eram goleiras. Um luxo antes inimaginável.

O prazer de acertar um chute no ângulo da goleira. Qualquer goleira. O que pode se comparar, na experiência humana? Ou na experiência humana de um brasileiro?

Todos estes prazeres passam - com o tempo e as obrigações, com a vida séria, com a barriga - mas o amor pelo nosso time continua. Confiamos ao nosso time a tarefa de continuar nossa infância por nós. Passamos-lhe a guarda dos nossos prazeres com a bola. A relação com o nosso time é a única das nossas relações infantis que perdura, tão intensa e irracional quanto antes. Ou mais.

De onde vem isso? Que tipo de amor é esse? Um mistério. Dizem que no fundo é uma necessidade de guerra. De ter uma bandeira, ser uma nação e arrasar outras nações, nem que seja metaforicamente. Psicologia fácil. Não explica por que a pequena torcida do Atlético Cafundó, que nunca arrasará ninguém, continua torcendo pelo seu time. Talvez o que a gente ame no futebol seja o nosso amor pelo futebol. Isso que nos faz diferentes dos outros, que amam o futebol mas não tanto, não tão brasileiramente.

Ou talvez o que a gente ame seja justamente o mistério.

Um comentário:

  1. Oi Thiago,
    O que esta acontecendo agora que o campeanato terminou pela temporada?
    Vi que o fundacao Marcet esta enviando dois equipes de disputar o torneiro Milk Cup.
    Voce sera envolvido treinando e preparando os equipes do funcao Marcet.
    Thiago voce e seus atlatas Brasileiros fram dado uma tarefa impossivel com Armagh. Agora voce tem tempo de preparar - los pelo temporada que vem em Agusto, formando os jogadores dum nivel mais alto.
    Um abraco forte e fique com Deus

    Pr. Billy Jones

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