terça-feira, 17 de maio de 2011

A chantagem social!


            Estou sendo indagado por um amigo sobre um de meus textos. Ele simplesmente diz que discorda praticamente de tudo o que eu escrevi, em especial sobre o fato de eu, em meu texto, dizer que não existe no Brasil nenhum trabalho de formação de atletas de futebol que priorize formar cidadãos que deva ser levado em consideração. Isto realmente indignou ele a ponto de fazer o seguinte comentário: “Eu sei de um clube que até incentiva os jogadores a estudar!”. Depois disto simplesmente parei de escutar o que ele estava dizendo! Precisamos, urgentemente, de uma revolução moral, cultural e de valores em nossa sociedade.
            Qual é os nortes que guiam, ou deveriam guiar, nossa sociedade? Quais são os alicerces sobre os quais está construída nossa sociedade? Qual a função do estado, da família? Do cidadão? Estas são as perguntas que necessitamos fazer urgentemente a nós mesmos. Não existe isto de incentivo ao estudo. Existe o fato estatístico de que em uma sociedade sem formação, maiores são as diferenças sociais, o aumento da criminalidade, etc. formar jogadores de futebol é um processo complementar a formação do individuo como agente integrante da sociedade e não o inverso. Muitos clubes de futebol formam jogadores de futebol e os incentivam a se complementarem como pessoa. O caminho a seguir é o oposto; formar pessoas e incentivá-las a tornarem-se desportivas por possuírem talento, inato ou adquirido, para tal.
            A mentalidade dos dirigentes, que são cidadão antes de tudo, é exatamente igual a do meu amigo. Mas em minha opinião particular o maior problema está nos treinadores de futebol das categorias de base, pois cabe a eles diretamente assumir o papel de executor de um plano de formação de atletas, que todos deveríamos saber, mas que simplesmente não existe no Brasil. Não digo que os treinadores deveriam mudar as imposições das direções de clubes, lutar contra os empresários de futebol ou sair dando porrada nos pais e mães que abandonam os empregos na expectativa de que seus filhos, as vezes com 12 ou 13 anos, sejam o arraigo da família. Digo sim é que eles poderiam dedicar uma parte de seu tempo a realizar um trabalho de formação das habilidades técnicas dos jogadores, o que elevaria a qualidade geral do grupo de atletas dando ao treinador a maior ferramenta contra a má formação pessoal do indivíduo: a chantagem!
            Assistentes sociais e psicólogos que me desculpem, mas um treinador de futebol que atue nas categorias de base de grandes clubes atualmente é refém dos próprios atletas, pois estes individualmente costumam “resolver” os jogos com lampejos de qualidade técnica impressionante e contra isso, somado ao contexto que comentei anteriormente somente a presença de mais jogadores qualificados tecnicamente permitirá ao treinador de futebol, sem contrariar as regras da direção, preservar seu emprego e contribuir para construção de pessoas melhores através da chantagem de que jogará aquele que tiver melhor rendimento escolar. Em um contexto onde haja 30 jogadores capazes de realizar os movimentos técnicos necessários para executar as soluções táticas demandadas pelo jogo em si será fácil aos treinadores de futebol transformar simples atletas em arraigo social, sustentando a si próprio dentro ou fora de campo.
            Como se faz isso? Basta aos treinadores de futebol executar aquilo que, em teoria, são pagos para fazerem: formar jogadores de futebol, através de métodos e técnicas de treinamento. Mas a formação de treinadores é outra história, pois tem treinador de futebol por aí tido como guru da bola que só o que sabe é dar coletivo e bronca, sem nunca prover, através de método, habilidade técnica aos jogadores. Mas este tema fica para outro texto, pois meu amigo já se deu por conta que não estava mais escutando-o e foi embora!

Nenhum comentário:

Postar um comentário