quarta-feira, 18 de maio de 2011

A crise do Palmas FR – 2ª Parte

Reestruturando um clube de futebol

            Assim como um vício que traz malefícios a saúde, o processo para reerguer um clube de futebol passa pelo primeiro, talvez mais importante, passo: admitir que o clube necessite de ajuda. Assim como no vício temos que admitir que incorremos em repetidos erros e já não somos capazes de decidir sozinhos nossos rumos pois estamos sob a perda momentânea de nossa vontade própria. Assim é a administração de um clube a beira da falência, mas que insiste em buscar saída usando mais da mesma “droga”. A vaidade pessoal dos dirigentes é um sentimento que arrebenta mais e mais os cofres do clube. Um título significa ser lembrado eternamente pelos torcedores como um grande administrador, ainda que o clube tenha agravado sua condição de sobrevivência. Uma temporada ruim significa ser hostilizado publicamente por torcedores e imprensa. Este é o maior mal das gestões que passaram anos e anos construindo um verdadeiro buraco negro no Palmas FR. Recuperar o clube levará muitos anos e, provavelmente, passará por abdicar da disputa de títulos montando equipes tecnicamente mais fracas.
            Um clube de modo geral, assim como empresas, ou até mesmo como a economia doméstica é baseada em fluxo de caixa, você deve arrecadar mais do que gasta, caso contrário irá à falência. As receitas de um clube de futebol são oriundas dos seguintes setores:

·         Quadro social (incluindo conselho)
·         Venda de produtos (incluindo royalties)
·         Venda de ingressos
·         Escolas esportivas (que podem ser incluídas dentro do quadro social ou não)
·         Patrocínios
·         Investidores
·         Venda de atletas
·         Outros eventos
·         Dividendos gerados pelo patrimônio

No caso do Palmas FR, assim como com uma empresa, fatores locais interferem diretamente no resultado, logo é necessário ter domínio dos dados econômicos, sociais e de desenvolvimento da localidade em que está inserido o clube. Tais dados vão ditar a construção de um PLANO DE GESTÃO que englobe, através de diretrizes decididas por todos os interessados, os pontos estratégicos para o desenvolvimento do clube por um determinado período. Este período, no caso do Palmas FR, em sua atual situação, deve ser bem superior ao prazo de um mandato presidencial do clube, que hoje é de 2 anos; pois este período é muito curto para implantar soluções que tragam o saneamento do clube, portanto devem haver quesitos básicos que deverão ser seguidos independentemente da gestão, como por exemplo o percentual de arrecadação do clube a ser destinado para o pagamento de dívidas, o percentual para as categorias de base, para área social, etc. Podemos comparar este plano de gestão a Lei de responsabilidade fiscal do governo federal que prevê não gastar-se mais do que se arrecada e impõe limites para despesas em setores estratégicos como pessoal.
Com os dados sociais e econômicos de Palmas e região, um plano de gestão definido, abre-se espaço para o incremento de ações a fim de atrair dividendos ao clube. O que um clube tem de fortalecer é sua marca e isto se dá através de equipes competitivas e títulos de expressão, mas se dá também através de acordos com entidades de marca solidificada que influenciem positivamente a imagem do clube, já que o Palmas FR não possui condições econômicas para fortalecer sua equipe. Dentro da realidade da população palmense é difícil acreditar que um plano de sócios terá sucesso, até porque o calendário de competições do estado é curto e pouco atrativo a quem gosta de futebol, sem falar que ao montar uma equipe mais fraca tecnicamente será difícil o torcedor trocar o futebol repleto de astros na TV pelos atletas locais. Para gerar receita através do quadro social o atrativo não pode ser o departamento de futebol profissional apenas. Oferecer sorteios de prêmios como eletroeletrônicos é um caminho certo para o sucesso, em especial se o clube se associar a uma marca de produtos ou de loja que goze de credibilidade. Um quadro entre 1200 e 1500 sócios a R$ 30,00 por mês com direito a participação em sorteios mensais ou quinzenais não é difícil de ser alcançado em uma cidade com mais de 200 mil habitantes. O valor dos produtos sorteados e uma forte divulgação dos prêmios e de suas entregas fortalecerão e tornarão atrativo associar-se ao clube, pois muitos serão os sócios que não irão aos jogos inicialmente, mas contribuirão em dia com o clube.
Outro tema fundamental é a renegociação das dívidas trabalhistas e com fornecedores. A maior parte dos clubes do Brasil paga caro por sua desorganização e por não honrar seus pagamentos a funcionários e fornecedores. A maior parte do valor econômico das dividas advém não do valor real devido, mas do fato de que o clube simplesmente não comparece as audiências em que é intimado e acaba sendo julgado a revelia, aumentando astronomicamente o valor real devido. Posso citar atletas que tinham direito a receber algo em torno de 5 mil Reais e pedem mais de 30 mil. Como o clube simplesmente não comparece para se defender acaba condenado aos 30 mil mais multas e honorários. Por outro lado já presenciei diversos dirigentes de coragem que chamaram seus credores e realizaram acordos de pagamento parcelado e com valores menores aos que foram condenados. Isso traz a credibilidade moral e legal de volta ao clube, mas é preciso coragem para tratar do tema e mais coragem ainda para manter o compromisso do pagamento. Acordos coletivos acabariam com 90% dos processos e condenações existentes contra o Palmas FR.
Por hora vou parar de escrever por aqui. Voltarei em um próximo texto para tratar das outras áreas de um clube de futebol e como o Palmas FR poderia reestruturá-las. Um abraço a todos! 

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