domingo, 15 de maio de 2011

Talento – Formando engenheiros do futebol!



Há algum tempo desejo escrever sobre talento no futebol brasileiro. Enquanto espero os clássicos do futebol regional espalhados pelo país, um fato extra me motivou a escrever e elucidar, sob minha ótica, a questão “talento” no contexto do trabalho de formação nas escolas de futebol e nas categorias de base do futebol tupiniquim. Recebi um comentário em meu último texto! Convenhamos que alguém se prestar a ler meus textos já é muita presunção de minha parte, mas que ainda se dê ao trabalho de comentá-lo é realmente surrealismo. Devido a tamanha felicidade e súbita inflação de ego, escreverei para meus leitores sob talento; não meu talento, mas dos atletas de futebol brasileiros.

Tudo seria mais fácil, e profissional, no trabalho de formação de atletas, se os gurus (treinadores) do futebol brasileiro se dessem o trabalho de ler. Não estou falando de nenhuma publicação inovadora baseada em uma pesquisa norueguesa, publicada em mandarim; estou falando do dicionário, ou como dizia minha professora de português da sétima e oitava séria o “amansa burro”. Segundo o dicionário, a palavra talento significa aptidão invulgar (natural ou adquirida); engenho. Esta definição nos leva a primeira certeza quando conversarmos com os gurus da bola novamente, a de que ao justificarem que os jogadores de futebol que chegarão ao alto rendimento são aqueles que simplesmente tenham talento. Poderemos, neste momento, devido a nossa descoberta, questioná-los se talento não é algo que se pode adquirir? Não é o seu (do treinador) trabalho ensinar, através de métodos de treinamento, os atletas levando-os a adquirirem o tal “talento” necessário para chegar ao alto nível?
Ao atentarmos ao significado de talento também encontramos engenho como significado. Um engenheiro, segundo o dicionário, é um especialista nos domínios da ciência e da técnica. Tal descrição serve perfeitamente para definir o Neymar, por exemplo, afinal ele é um especialista nos domínios da ciência e da técnica do futebol. Pergunta: se podemos formar um engenheiro civil, agrônomo ou de alimentos porque não podemos formar um jogador de futebol? Na realidade podemos, basta que os gurus da bola no Brasil parem de enganar a si e aos outros utilizando a idéia de que os jogadores que chegam ao alto nível não necessitam de nada além da sorte, pois são talentosos naturalmente para isso; e excluam crianças e jovens de seguirem seus sonhos com o pretexto de não possuírem o dito talento. Por favor, senhores gurus da bola, vamos trabalhar.
Ensinar, ou dotar de talento, baseia-se em proporcionar ao individuo (atleta) recursos técnicos através da vivência de experiências diversificadas e escalonadas em intensidade e grau de dificuldade, com uso de meios e métodos pedagógicos de ensino, exatamente como se ensina matemática, português, química e física por exemplo. As crianças devem experimentar (treinar) condução de bola, para elucidar com um exemplo, com todas as superfícies de contato possíveis pela regra do jogo e com base na experiência adquirida por outros que antecederam no uso deste hábito (o mesmo que dizer conduzir com o pé e suas diferentes superfícies); devem ainda provar as variantes de velocidade de execução, direção e alternância de membro executor (trocar o pé de contato). Devem ser ensinadas a conduzir a bola junto ao pé e porque fazê-lo. Este sistema vale para passe, domínio de bola, chute, jogo de cabeça, drible, técnicas defensivas e ofensivas individuais e até para tática do jogo.
Enquanto os gurus da bola seguem descobrindo talentos eu pretendo ajudar os futuros engenheiros do futebol a extraírem o máximo de suas aptidões técnicas através de um processo de ensino da técnica do futebol. Tudo isto porque alguém se deu ao trabalho duplo de ler e comentar sobre meu texto anterior. Quem sabe alguém não ajuda a divulgar isto para os gurus da bola, assim como para pais e atletas.

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